laboratoriofonte: O Globo

Um acordo assinado nesta quinta-feira entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) promete tornar o Brasil mais autônomo no combate a problemas de saúde pública, tendo em prioridade doenças como a malária, a esquistossomose e a leishmaniose, recorrentes em populações de áreas rurais e carentes. A instituição de ensino cedeu um terreno de 7.650 m², em seu Parque Tecnológico, na Ilha do Fundão, Zona Norte do Rio de Janeiro, para abrigar, em 2018, o novo Centro de Referência Nacional em Farmoquímica do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos). Lá serão desenvolvidos Insumos Farmacêuticos Ativos (IFA), substâncias químicas que compõem medicamentos e que são, ainda hoje, em grande parte, importados. Isso corresponde a mais de 90%, conforme destaca o diretor do Parque Tecnológico da UFRJ, José Carlos Pinto:

— Hoje, é quase impossível fazer um tratamento de qualquer doença, mesmo as mais triviais como uma inflamação no dente, sem usar remédio importado e mais caro. Como cidadão brasileiro, acho absurdo. É como se a nossa saúde dependesse dos países estrangeiros. A construção desse centro de pesquisa vai ter uma contrapartida social enorme nesse sentido e também permitir uma interação ainda mais intensa entre os pesquisadores da Fiocruz e os núcleos tecnológicos da UFRJ. Várias microempresas e startups já instaladas no Parque são voltadas para a área da saúde.

A produção nacional de comprimidos e cápsulas, apesar de farta, trata apenas da finalização dos remédios.

— O país tem grande autonomia apenas na formulação farmacêutica; nos insumos, não. Tanto que, na década de 1990, quando se liberou a importação, várias firmas farmoquímicas faliram, como a Cibran, de antibióticos e uma das maiores do mundo; e a Biobrás, de insulina. E a política industrial em saúde que foi implementada nos últimos anos, principalmente as parcerias para o desenvolvimento produtivo, estão focadas em trazer tecnologia e independência — lembra José Bermudez, vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz.

Um grupo de pesquisa de aproximadamente 80 pessoas vinculadas ao Farmanguinhos faz ponte com o setor privado para dominar a tecnologia de produção dos princípios ativos, feita por empresas de fabricação em larga escala. Bermudez defende que as respostas para doenças até então consideradas negligenciadas (ignoradas pelos grandes laboratórios) venha com a mesma rapidez que a Fiocruz tem dado a casos emergenciais como os de zika e chikungunya.

— Alguns produtos, estratégicos para o Brasil, não interessam ao setor privado por serem baratos, de baixo custo e de pouca demanda, como os que tratam malária e tuberculose. Nesse convênio com a universidade federal, teremos uma planta piloto para produzir, em pequena escala, mas suficiente para atender ao sistema público de saúde, a síntese química de fármacos. Ela poderá suprir em casos de emergência e será um ambiente muito rico de intercâmbio — acrescenta.